Estava hoje à tarde com um pouco de sono e resolvi deitar na cama para tirar uma sonequinha. Entretanto, não sei o que deu na minha cabeça que eu decidi entrar na internet para ver alguma coisa interessante. Acessa caixa de e-mail aqui, o Twitter ali, uma página de notícias acolá e quando menos pensei estava no Orkut conferindo as novidades da comunidade Consciência Feminista. Lá, encontrei um fórum de notícias que faz uma denúncia de comunidades que deturpam a imagem da mulher, querem destituir os direitos por nós adquiridos, bem como promovem a violência contra a mulher. Dentre elas, há uma comunidade que defende (pasmem!) a legalização do estupro contra a mulher.
Fiquei espantada com tudo o que vi, afinal de contas me empenho diariamente na luta pela igualdade de direitos, pelo espaço e reconhecimento do papel da mulher na sociedade. Pois sou mulher, preta e luto pelos meus direitos, que não são nada mais que méritos adquiridos – apesar de ter quem ache que são migalhas jogadas aos porcos, ou melhor, às porcas.
Todos nós sabemos das conquistas que foram adquiridas debaixo de muita luta. O direito de voto no Brasil, que só fora concedido à mulher em 24 de fevereiro de 1932 pelo Código Eleitoral Provisório (conseqüência das medidas modernizadoras tomadas por Getúlio Vargas após a ascensão deste ao poder com o Golpe de 1930). O uso da pílula anticoncepcional deu-se em 1962, também em meio a várias discussões, (mas que não foi suficiente para dar à mulher o direito de ser dona do próprio corpo), visto que a legalização do aborto ainda não é permitida, porque a mulher é vista como uma pessoa incapaz de decidir por si própria, e que por isso deve ser tutelada o tempo inteiro pelo pai, pelo marido ou pelo Estado. Todas essas conquistas tinham por meta, pelo menos aparentemente, promover a igualdade entre homem e mulher. Direitos estes em que o estado de direito se faz nulo num país com direitos civis embasados por aspectos sexistas, machistas, homofóbicos, preconceituosos e racistas.
A promoção da violência contra a mulher não parte somente das instâncias do Estado, mas da sociedade como um todo. Uma das formas mais usadas atualmente para naturalizar e incitar a violência contra a mulher são as músicas de pagode baiano. Não sou uma apreciadora do ritmo (por razões óbvias), mas tenho ouvido ultimamente algumas músicas que me deixaram perplexas pela forma como a mulher é colocada nelas (como objeto sexual, como um ser sem valor, como uma pessoa obrigada a satisfazer as necessidades sexuais masculinas – nem que para isso seja necessário recorrer à força). Exemplo disso é a música Na Geral, da banda de pagode No Styllo (uma incitação clara ao estupro coletivo de uma mulher que, segundo o autor da música, é acostumada a usar de artimanhas para esquivar-se da “obrigação” de pagar em sexo pelo “conforto” que lhe é proporcionado pelos homens). Também não poderia deixar de citar a banda Black Style, que é vezeira ao detonar a imagem da mulher em suas músicas, a exemplo de Me Dá a Patinha, Vaza Canhão, Rala a Tcheca no Chão e Balança o Rabinho, Cachorra.
Acho desnecessário citar mais exemplos, até porque a lista é grande e as canções são bastante repetitivas quanto ao seu conteúdo. Mas quem quiser conferir basta dar uma pesquisada rápida no You Tube e verificar.
E é em meio a tudo que vejo e ouço que questiono a todo o momento em que estado de direito se propaga a ideia subversiva do que representa a figura feminina na cabeça de muitos homens por aí. O direito até de propriedade que vos parece concedido nas comunidades que vi e que pregam o abuso sexual às mulheres, bem com a legalização destes abusos. E que todo movimento que entra no pleito pela a igualdade de direitos é meramente visto como “Fábrica de Putas”.
E é por tudo o que disse até aqui que presto o meu repúdio a essas comunidades, lançando-o nas redes sociais e enviando o meu descontentamento por e-mail à minha lista de contatos. Por fim, deixo os links de outras comunidades que caracterizam tudo que falei até então.
– A Mulher É Inferior ao Homem;
*Créditos cedidos ao Prof° Rogério Santos que revisou e me ajudou a escrever esse texto.
Muiitoo bOa essa sua critiica Paula… ArrasOu… Beiju
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Obrigada Carol.
Grande abraço.
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Gostei do texto, Paula. Ficou, contudo, sem resposta a razão pela qual tais músicas fazem tanto sucesso. Será que o sucesso destas pérolas é somente entre homens?
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Paulo Gurgel,
Estas músicas, de fato não fazem sucesso somente entre os homens. Há mulheres que apreciam e exaltam as músicas que citei aqui e tantas outras que nós ouvimos por aí. Mas o foco do texto não são as músicas – se é que podem se chamar assim – e sim a violência contra a mulheres e sua banalização, inclusive feita pela mídia e a forma com que estas músicas contribuem para a naturalização da violência.
As práticas de abuso sexual, os assédios físicos e morais aos quais muitas mulheres são submetidas cotidianamente é o meu grande questionamento e o que me causa grande espanto diante de tudo que se apresenta.
E é neste mar de argumentações, que apresento as respostas para tudo que fora apresentado até então.
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Paulaa… Momento aplausos p vc e p o Prof Rogério!
(palmas)
Excelente Texto. Arrasou mesmo!
Outra coisa..denunciei todas as comunidades citadas que pude.
Grande Abraço e o blog está maravilhoso!
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Obrigada Vitor, que bom que gostou do texto. E fico feliz que você está contribuindo para denúnica destas comunidades.
Grande abraço.
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Olá, Srta. Libence!
Parabéns pelo texto. Eu compartilho com a sua indignação. De fato esses e outros tantos abusos contra a mulher estão aí, perpetuando-se na sociedade baiana. E são movimentos que vão de encontro com os avanços e conquistas que a figura feminina já conseguiu, à custa de muita luta. A maior autoridade do Brasil é uma mulher. Muitos se fala da efervescência da produção musical aqui na nossa terra, mas, infelizmente, a maioria das “pérolas” produzidas tem uma conotação pejorativa para com a mulher. E a mídia propaga esses ditos “sucessos”, alegando que é a “cultura popular”. NÃO É CULTURA POPULAR, NÃO!É um retrocesso, é uma agressão desmedida, sem controle algum dos órgãos competentes.
Aplausos para a sua indignação, querida Paula. E conte comigo para reverberar o seu grito. Força sempre.
Professor Antonio, seu amigo e admirador.
Bjos.
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Parabéns, Paula!
Seu texto está ótimo, bastante coerente. Adorei!
Sucesso!
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Querida texto muito bom. Pena que a maioria das mulheres se deixam levar pela percussão e não analizam a letra depreciativa das músicas.
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